Sobre a autossabotagem: por que nos bloqueamos para a real felicidade?
A autossabotagem pode nos deixar tristes, mas pelo menos segura e abençoadamente no controle.
Por The School of Life
É
normal esperar que sempre – e quase por natureza – corramos atrás de
nossa própria felicidade, especialmente em duas grandes áreas de
possível satisfação: relacionamentos e carreiras. Então, é estranho e um
tanto enervante descobrir que alguns de nós frequentemente parecemos
agir como se estivéssemos deliberadamente decididos a arruinar nossas
chances de conseguir aquilo que, aparentemente, fomos convencidos a
perseguir.
Ao
sair para encontros com pretendentes que soam bons, podemos,
repentinamente, começar a ter um comportamento desnecessariamente
combativo ou antagonista, ao passo que não temos dificuldade em sermos
encantadores com tipos dos quais não gostamos tanto.
Ou,
em relacionamentos, poderíamos levar nossos parceiros à distração por
meio de acusações repetidas e injustificadas ou explosões de raiva –
como se estivéssemos, de alguma forma, dispostos a causar o triste dia
em que, cansados e frustrados, nossos amados sejam forçados a se
afastar, ainda solidários, mas incapazes de aguentar tanto drama.
Da
mesma forma, poderíamos destruir nossas chances de uma promoção
iminente no trabalho quando, do nada, depois de anos promissores,
ficamos irritados com nossos gerentes ou, várias vezes, não entregamos
relatórios cruciais a tempo para reuniões.
Esse
comportamento não pode ser explicado como simples má sorte. Merece um
termo mais forte e intencional: é autossabotagem. O que poderia explicar
tal destrutividade?
Em
grande parte, é por conta do quão enervante a felicidade pode parecer
para nós, às vezes. Embora a felicidade seja, claro, o que todos
fundamentalmente queremos, para muitos de nós ela não é realmente o que
conhecemos. Crescemos em cenários muito mais sombrios e aprendemos a nos
acostumar com eles. A perspectiva da felicidade, quando ela aparece,
pode, portanto, parecer contraintuitiva e um tanto assustadora.
Não
é o que esperamos e não parece confortável. Podemos preferir escolher o
que é confortavelmente familiar, mesmo que difícil, ao que é
satisfatório ou bom. Conseguir o que queremos pode parecer
insuportavelmente arriscado. Isso nos coloca à mercê do destino: nós nos
abrimos à esperança – e à possibilidade subsequente de perda. A
autossabotagem pode nos deixar tristes, mas pelo menos segura e
abençoadamente no controle.
Pode
ser útil manter o conceito de autossabotagem em mente ao interpretar as
atitudes mais esquisitas nossas e dos outros. Devemos começar a
suspeitar quando nos flagrarmos agindo de forma maluca ou errática perto
de pessoas de quem, no fundo, gostamos ou que queremos impressionar.
Além
disso, ao encarar alguns tipos de crueldade e falta de confiabilidade
nos outros, deveríamos ousar imaginar que as coisas, talvez, não sejam
exatamente o que parecem; podemos ter em mãos não um oponente malévolo e
virulento, mas um autossabotador quase comoventemente ferido – que
merece, principalmente, um pouco de paciência e deve ser gentilmente
guiado a parar de se prejudicar ainda mais.
Devemos
fazer as pazes com, e ajudar os outros a ver, o quão difícil e
enervante pode ser, às vezes, chegar perto do que realmente queremos.
>> Este artigo faz parte do capítulo XX do livro "The Book of Life"
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